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Cultura do improviso: o maior risco do canteiro é o jeitinho invisível

Operador improvisando com ferramentas adaptadas em obra

Tem coisa mais brasileira que o improviso? No churrasco, ele salva. Na música, ele brilha. Mas no canteiro de obras? Aí o buraco é mais embaixo. Quando o improviso vira cultura, ele deixa de ser exceção e se transforma em risco permanente — um risco que ninguém mais enxerga porque já virou parte do cenário.

Do quebra-galho ao quebra-cabeça

Tudo começa com uma adaptação inocente: uma cinta presa de lado, um calço de madeira em vez de patola, uma ferramenta adaptada 'só por hoje'. Só que esse 'só por hoje' vira padrão, e quando você percebe, a obra está rodando num sistema paralelo — mais baseado em gambiarra do que em norma técnica. O pior? Funciona. Pelo menos até parar de funcionar e alguém se machucar.

O jeitinho como método (e armadilha)

Em muitos lugares, o improviso virou parte do processo. A equipe já conta com ele. O projeto está incompleto? 'O operador resolve'. Faltou o equipamento certo? 'Dá-se um jeito'. É o famoso 'sempre foi assim'. O problema é que essa cultura do jeitinho normaliza desvios que acumulam risco silencioso. E quando acontece um acidente, ninguém lembra da sequência de improvisos que o construiu.

Quando a pressa vira desculpa

A justificativa clássica do improviso é a pressa. 'Se formos seguir tudo à risca, a carga atrasa'. A grande ironia é que, justamente por não seguir tudo à risca, ela cai — e aí o atraso vira processo, retrabalho, afastamento, boletim de ocorrência. Pressa não justifica atalho. Justifica planejamento. E é isso que muitos esquecem.

O improviso invisível: quando ninguém mais enxerga o erro

O maior perigo do improviso não é quando ele acontece. É quando ele desaparece — não por ter sumido, mas por ter virado parte da paisagem. Quando todo mundo repete sem pensar, ninguém mais questiona. E aí, o operador que faz certo é visto como lento, e o que improvisa vira 'ágil'. Nesse ambiente, a segurança deixa de ser prioridade e vira obstáculo.

Como quebrar esse ciclo sem virar o chato da obra

Mudar uma cultura não é dar sermão — é dar exemplo. O operador que se recusa a improvisar precisa mostrar resultado. O líder que cobra padrão precisa explicar o porquê. E a equipe toda precisa entender que segurança não é frescura: é produtividade de longo prazo. O bom profissional não é o que dá jeitinho rápido — é o que entrega com consistência. Ser raiz não é se orgulhar da gambiarra, é saber quando ela não deveria acontecer.

Conclusão: todo improviso tem custo. Só que alguns cobram depois.

Improvisar no canteiro é como colar com fita isolante uma peça do motor — parece funcionar, até parar de vez. A cultura do improviso precisa ser exposta, discutida e, em muitos casos, enterrada. Porque por trás de todo grande acidente, quase sempre houve um pequeno atalho que ninguém teve coragem de barrar. E aí, vale mesmo a pena ser rápido hoje e demitido (ou ferido) amanhã?